Comentário

Todos nós dizemos a mesma coisa, quando conversamos (ou, na maioria das situações, reclamamos) sobre a nossa cidade ou o nosso país. Não tem mais jeito, é assim mesmo, nunca vai mudar... Em outros países, o povo se mobiliza, vai às ruas, protesta, exige os seus direitos. Aqui, nós nos limitamos a reclamar em pequenos círculos de amigos, à hora do almoço, na fila do banco, diante da TV. Por isso, nasce este blog, sem nenhuma pretensão, exceto a de ser um espaço para reflexão. Porque o Brasil não é assim mesmo. Porque pode deixar de ser assim. Difícil? Sim. Mas quem sabe você que me lê e eu não conseguimos começar a mudança?

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Um sucesso extraordinário

"O Enem foi um sucesso extraordinário", declarou nosso presidente em Moçambique.  Disse ainda que “tem muita gente que até hoje não se conforma com o sucesso do Enem” e "não vai ser um ou outro caso que vai impedir o sucesso do Enem”.

Novamente nosso dirigente levanta seu escudo contra "a turma do contra", que, diga-se de passagem, foi quem instituiu o Enem, em 1998. A diferença entre "aquele" Enem e o atual é que, à época de sua instituição, o Enem visava apenas avaliar o desempenho dos estudantes ao concluir o período da escolaridade básica. Agora, o Enem é utilizado como critério de seleção para os que pretendem concorrer a uma bolsa no Programa Universidade para Todos (ProUni). Além disso, cerca de 500 universidades já usam o resultado do exame como critério de seleção para o ingresso no ensino superior, como complementação ou substituição ao vestibular.

Será que podemos considerar um "sucesso extraordinário" um exame em que faltavam questões em alguns cadernos e em outros havia questões repetidas? Em que os cartões de respostas continham as questões em ordem trocada? Em que houve desinformação quanto ao que deveriam fazer os alunos, ao preencher seus cartões de respostas? E será que esses alunos representam apenas "um ou outro caso"?

O MEC (Ministério da Educação) admitiu que o erro nos cartões de resposta é de responsabilidade do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), vinculado ao MEC. Já o problema de falta ou repetição de questões nas provas é de responsabilidade da gráfica. 

Como se isso fosse pouco, professores de conceituados cursinhos comparecem à TV e falam de questões sem resposta, ou com mais de uma possível resposta, e há a incrível questão que fala da abertura dos portos em 1810! 

A Justiça Federal cancelou o exame aplicado recentemente e proibiu a divulgação de seus gabaritos. Aliás, este é outro tema que me espanta. O gabarito não estava pronto! "Para salvaguardar o sigilo", o gabarito seria preparado somente após a prova!

Reaplicar a prova somente para alguns alunos, como era o desejo do MEC, não soluciona a questão. É preciso pensar como aluno. Os alunos saíram do exame, no sábado, já confusos porque alguns cartões de respostas não estavam corretos, ou porque alguns cadernos de questões continham falta ou repetição de questões. À noite, viram as notícias no Jornal Nacional, em que já se mencionava a possibilidade de anulação. É bem possível que mesmo alunos cujas provas não continham problemas sequer tenham comparecido à segunda parte do exame, no domingo, ou que tenham feito esse exame desmotivados, sem dar tudo de si. 

O justo é reaplicar o exame para todos. E deixar de considerar um sucesso o que, na realidade, foi, pelo segundo ano consecutivo, uma vergonha. 

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