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Todos nós dizemos a mesma coisa, quando conversamos (ou, na maioria das situações, reclamamos) sobre a nossa cidade ou o nosso país. Não tem mais jeito, é assim mesmo, nunca vai mudar... Em outros países, o povo se mobiliza, vai às ruas, protesta, exige os seus direitos. Aqui, nós nos limitamos a reclamar em pequenos círculos de amigos, à hora do almoço, na fila do banco, diante da TV. Por isso, nasce este blog, sem nenhuma pretensão, exceto a de ser um espaço para reflexão. Porque o Brasil não é assim mesmo. Porque pode deixar de ser assim. Difícil? Sim. Mas quem sabe você que me lê e eu não conseguimos começar a mudança?

domingo, 9 de janeiro de 2011

Paciência, não

No Parlamento brasileiro, uma das virtudes raramente presentes, de modo geral, é a celeridade, porém foram necessários apenas vinte minutos na Câmara dos Deputados e dois minutos no Senado para que os parlamentares aprovassem o escandaloso aumento de 61,8% em seus salários, já mencionado aquiCom o governo discutindo a necessidade de controle e redução dos gastos públicos, e com a proposta de um reajuste ínfimo no salário mínimo, este aumento é uma afronta e mostra que os nossos representantes não se preocupam com a opinião pública.

O índice de 61,8% corresponde ao triplo da inflação acumulada desde 2007, quando houve a última correção. O aumento foi arquitetado na surdina e, devido ao baixo quórum, votado de maneira simbólica, o que não permite identificar quem foi contrário ou favorável à proposta. O resultado imediato é um gatilho de reajustes para deputados estaduais e vereadores de todo país. 

Não nos esqueçamos dos benefícios adicionais ao salário a que têm direito os nossos parlamentares: auxílio-moradia, passagens aéreas, cotas de combustível, cotas de telefone, verba para decoração de seus gabinetes... 

Por outro lado, o cálculo da inflação e a pressão do PMDB estão forçando a revisão do valor proposto para o salário mínimo. Talvez, afinal, não seja R$ 540,00, e sim R$ 550,00.  Realmente, os R$ 10,00 vão fazer toda a diferença. E é incrível que ninguém se envergonha, ninguém enrubesce nem gagueja ao propor esses R$ 10,00. 

Os nossos parlamentares ganham mais do que os japoneses, norteamericanos e alemães, por exemplo, mas nesses países a renda per capita é quatro a cinco vezes a nossa, e nem precisamos mencionar a diferença na qualidade da saúde e da educação.

O reajuste de 61,8% foi aprovado em meio à correria de fim de ano, com a esperança de que os eleitores o esquecessem logo. Diz o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília: “No Brasil é assim. Paciência”.

Paciência? Sinto muito, não dá mais. Chega de pagar a conta.  Gente, o Brasil não é assim mesmo. Cabe a nós, eleitores, protestar e exigir um pouco mais de decoro e vergonha e um pouco menos de cara de pau e dinheiro no bolso no nosso Congresso. 

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