No Parlamento brasileiro, uma das virtudes raramente presentes, de modo geral, é a celeridade, porém foram necessários apenas vinte minutos na Câmara dos Deputados e dois minutos no Senado para que os parlamentares aprovassem o escandaloso aumento de 61,8% em seus salários, já mencionado aqui. Com o governo discutindo a necessidade de controle e redução dos gastos públicos, e com a proposta de um reajuste ínfimo no salário mínimo, este aumento é uma afronta e mostra que os nossos representantes não se preocupam com a opinião pública.
O índice de 61,8% corresponde ao triplo da inflação acumulada desde 2007, quando houve a última correção. O aumento foi arquitetado na surdina e, devido ao baixo quórum, votado de maneira simbólica, o que não permite identificar quem foi contrário ou favorável à proposta. O resultado imediato é um gatilho de reajustes para deputados estaduais e vereadores de todo país.
Não nos esqueçamos dos benefícios adicionais ao salário a que têm direito os nossos parlamentares: auxílio-moradia, passagens aéreas, cotas de combustível, cotas de telefone, verba para decoração de seus gabinetes...
Por outro lado, o cálculo da inflação e a pressão do PMDB estão forçando a revisão do valor proposto para o salário mínimo. Talvez, afinal, não seja R$ 540,00, e sim R$ 550,00. Realmente, os R$ 10,00 vão fazer toda a diferença. E é incrível que ninguém se envergonha, ninguém enrubesce nem gagueja ao propor esses R$ 10,00.
Os nossos parlamentares ganham mais do que os japoneses, norteamericanos e alemães, por exemplo, mas nesses países a renda per capita é quatro a cinco vezes a nossa, e nem precisamos mencionar a diferença na qualidade da saúde e da educação.
O reajuste de 61,8% foi aprovado em meio à correria de fim de ano, com a esperança de que os eleitores o esquecessem logo. Diz o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília: “No Brasil é assim. Paciência”.
Paciência? Sinto muito, não dá mais. Chega de pagar a conta. Gente, o Brasil não é assim mesmo. Cabe a nós, eleitores, protestar e exigir um pouco mais de decoro e vergonha e um pouco menos de cara de pau e dinheiro no bolso no nosso Congresso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário